sábado, 10 de fevereiro de 2007

Angelina é entrevistada pela Revista Época

De musa dark e colecionadora de facas a embaixadora da ONU para refugiados. Assim foi a transformação de um dos maiores furacões de Hollywood: a atriz Angelina Jolie. Depois de sua fase gótica e alienada, Jolie amadureceu e se transformou na primeira superestrela do cinema - desde Mia Farrow e Audrey Hepburn - a chamar a atenção (de verdade, e não apenas num golpe publicitário) aos problemas dos refugiados nos Bálcãs, Afeganistão, Vietnã e Camboja, criando a moda das celebridades que agora abraçam causas sociais. Não bastasse isso, Jolie chegou às vias da beatificação do show biz ao adotar o menino cambojano Madoxx e a garota africana Zahara. O terceiro adendo a essa prole, a garota Shiloh Nouvel, foi produto biológico de sua criticada união com Brad Pitt, que teria se apaixonado pela atriz quando ainda era casado com Jennifer Aniston. Histórias de adultério, romance, viagens internacionais para campos de refugiados e um trio de belos filhos renderam ao casal o apelido de Brangelina e uma bizarra sanha dos paparazzi e revistas de celebridades não vista desde que Elizabeth Taylor colecionava diamantes de Richard Burton.
Depois de um período turbulento - e no qual o casal se negou a falar publicamente do romance -, Angelina parece ter baixado a guarda. Nesta entrevista exclusiva a ÉPOCA, a atriz falou sobre filhos, o romance com Pitt e a ordem mundial. Angelina, que estava toda vestida de preto, e ainda continua a ser a mulher mais sexy do planeta, só assusta em um detalhe: seus braços estão assustadoramente magérrimos.

ÉPOCA: O que há de Angelina Jolie em sua personagem em O Bom Pastor?

Angelina Jolie: Nada! (risos) Nunca interpretei uma mulher tão oposta à minha pessoa. Talvez no começo, quando ela é jovem, e mais louquinha e mais engraçada. Mas as escolhas que ela faz mais tarde como mulher e mãe não têm nada a ver comigo. Ela é muito elitista, o que não tem nada a ver comigo também. Ao longo do filme, ela vai ficando mais de mãos atadas, enquanto eu sou uma pessoa que não fica quieta caso seja ameaçada por qualquer coisa. O interessante de fazer uma personagem assim é assistir ao declínio dela, pois, no começo, ela tinha essa habilidade e potencial de ser uma mulher independente e interessante. Mas foi criada dentro de uma elite e o coração dela ficou nesse meio. É muito difícil interpretar alguém assim, mas ao mesmo tempo muito interessante. Tive que me preparar um bocado.

ÉPOCA: Foi difícil simpatizar com uma personagem assim?

Angelina Jolie: Muito. Meu primeiro instinto, e o que se tornou muito importante para mim durante as filmagens, foi suspender qualquer julgamento moral que eu teria sobre tal mulher. Não há como defender os atos dela e acho que o filme nem tenta fazer isso. O mais importante é que o romance dela com o garoto é o catalisador que a coloca nos braços de Barbara (Judi Dench). Esse é o grande drama. Quando entendi finalmente que Sheba era uma pessoa incrivelmente perdida, como uma bomba próxima a explodir, finalmente encontrei meu caminho na história.

ÉPOCA: Que tipo de preparação?

Angelina Jolie: Pela primeira vez em minha carreira eu tive um professor de etiqueta, o que é uma coisa hilária de se ter. Meu instinto todo é diferente do dela, desde a maneira que movimento minha cabeça. Naquela época, as mulheres eram mais tímidas, cheias de decoro. Uma mulher de hoje é mais direta. Imagine que tive de aprender a dobrar um guardanapo (risos). Outro aspecto interessante - e assustador - é como ela lida com o filho na casa dos outros. Ela fica falando ?Não toque nisso, não toque naquilo?. Isso é algo muito cruel para se dizer a uma criança, e jamais faria isso a um filho meu. Mas fazer isso nos anos 40 mostrava a seus vizinhos que você os respeitava ao trazer uma criança para dentro do lar deles.

ÉPOCA: Como é ser dirigida por Robert De Niro?

Angelina Jolie: Com ele, acho que voltei a me lembrar da verdadeira razão de ter decidido fazer filmes. Desde que comecei a ter filhos, eu vinha trabalhando muito pouco. Eram dois meses de trabalho e dois anos de férias (risos). Não sou muito fã das maquinações estratégicas da indústria para os filmes hoje em dia. A mentalidade agora é fazer um filme temático para aquele feriado específico, ou é a corrida do filme mais popular, aquele que arrecada mais dinheiro no final de semana. E filmes hoje são muito menos atos de contar uma boa história ou botar a luz em determinado tema para um entendimento mais amplo. Um filme como O Bom Pastor, quer você goste ou não, vai provocar debates, ele instiga. E vendo a dedicação de De Niro ao filme, a ampla pesquisa que ele fez ao longo de quase uma década, me lembrou muito do que eu me dispus a fazer no começo de minha carreira. A propósito, De Niro é bastante caladão num set. Ele fala pouquíssimo (risos).

ÉPOCA: Dos filhos que você menciona ter tido, apenas o último deles, a menina Shiloh Nouvel, é sua filha biológica. Isso a faz ser diferente?

Angelina Jolie: Para ser honesta, eu achei que seria diferente, sim. Mas, no fim das contas, não é nada diferente, a não ser o fato de que ela se parece com o Brad (risos). O engraçado é que ela vai ser a mais diferente na família porque é tão loira e tem olhos tão azuis... Mas todos os meus filhos são interessantes da mesma maneira para mim. Todos vieram a mim de uma maneira diferente. Cada momento deles, seja o momento em que eu os conheci ou o momento do nascimento de minha filha, são igualmente importantes e interessantes para mim.

ÉPOCA: Então a experiência de estar grávida e dar à luz não lhe afetou tão fortemente.

Angelina Jolie: Não há nada de especial porque um filho é geneticamente parte seu e os outros nasceram de outras mulheres. Para mim, o mais legal de toda a gravidez foi o lado homem e mulher dentro de um relacionamento. Ver como Brad reagiu ao assistir o ultra-som pela primeira vez. Esse momento foi único. Por outro lado, quando eu vi a foto de Zahara antes de conhecê-la pessoalmente, foi muito, mais muito emocional para mim. São jornadas diferentes, mas com sentimentos muito parecidos.

ÉPOCA: Como você os cria?
Angelina Jolie: Como toda mãe. Quero que meus filhos sejam saudáveis e, sobretudo, quero que eles sejam mentalmente saudáveis, com uma ótima atitude sobre eles mesmos. Quero também manter o equilíbrio. Como a família anda crescendo, quero ter certeza de que ela está crescendo apropriadamente e equilibrada. Quero ter certeza de que, quando viajamos, o que é muito importante para mim, eles não se percam nesse lado mundano e que entendam que eles podem ser privilegiados por um lado, mas que, por outro, são crianças como quaisquer outras que visito e que, de vez em quando, eles vão estar com um bando de crianças que não têm TV e que passam o dia jogando futebol em terreno de chão batido e falando outro idioma.

ÉPOCA: O que você aprende com essas viagens pelo mundo?

Angelina Jolie: Trabalhar com refugiados é um privilégio e algo que me traz enorme felicidade. Em minhas viagens, conheci mulheres que sofreram muito e que são muito mais fortes que eu, muito mais capacitadas que eu, e as amo e as admiro. Ganho muito dinheiro de uma profissão que adoro fazer, mas gastar esse dinheiro em jóias nada significa para mim. Já poder construir uma escola me dá um grande contentamento, então trata-se de uma escolha extremamente fácil. Não me sinto especial por isso, mas bastante privilegiada por poder fazê-lo.

ÉPOCA: No começo de sua carreira, você tinha essa imagem de selvagem, doidona. Acha que amadureceu?

Angelina Jolie: Isso é muito engraçado. Pois eu acho que sou muito mais selvagem e doidona agora. Talvez, aos 20, eu era um pouco mais perdida e autodestrutiva. Todos nós temos períodos em nossas vidas em que nos encontramos um pouco perdidos, sem um senso real de propósito. Ou estamos absortos na dor de nossa própria angústia. Mas eu sou muito mais maluca hoje, pois faço escolhas mais específicas como ir a Washington fazer lobby com políticos de idéias que desprezo para que eles passem essa ou aquela lei no Congresso. Hoje eu acordo com um nível de pressão muito mais forte e que não existia antes. Sem esse tipo de propósito, aos 20 era muito mais fácil ser revoltada.

ÉPOCA: O seu ativismo social colocou seu lado de famosa no banco traseiro?

Angelina Jolie: Absolutamente, sim. Celebridade nunca foi uma coisa legal, para começo de conversa. Mesmo quando eu era jovem, não fazia nenhum sentido para mim que o foco da atenção estava em minha pessoa e não no trabalho que fiz. Eu adoro ser atriz e tenho sorte de fazer filmes que, algumas vezes, são divertidos e servem de entretenimento para toda a família. Mas às vezes quero fazer filmes que digam alguma coisa também, como a história de Daniel Pearl. Para ser honesta, uma das primeiras perguntas que faço ao receber um roteiro hoje em dia é: quanto tempo de filmagens e quanto tempo terei que ficar longe de meus filhos? (risos) Não tinha trabalhado por um bom tempo. O filme de De Niro tomou duas semanas de minhda vida e o de Daniel Pearl rodamos em seis semanas. É muito difícl me tirar de casa hoje em dia.
ÉPOCA: A propósito, como foi filmar a história de Daniel Pearl na Índia?

Angelina Jolie: É sempre legal filmar num país onde você nunca esteve antes e conhecer a equipe técnica local e atores locais, que nesse filme eram da Índia, Paquistão e Iraque. Tinha gente do Paquistão que nunca esteve na Índia por razões óbvias, cada um com sua história. Então foi muito bacana ter essa sensação de unidade, principalmente quando você faz um filme que tem um tema difícil e cuja história você quer passar corretamente.

ÉPOCA: Qual é o segredo de um relacionamento de sucesso, como é o que você parece manter com Brad Pitt?
Angelina Jolie: É você ter valores parecidos e lutar pelos mesmos ideais. É você ter uma opinião parecida sobre o certo e o errado. E ter respeito um pelo outro também.

ÉPOCA: O que mais a surpreendeu sobre seu companheiro?

Angelina Jolie: Que ele é uma pessoa muito pé no chão. E se você conhecer a família dele, você vai entender isso também. Brad tem uma família que absolutamente o ama. Uma família amorosa e equilibrada, e muito cool. Naturalmente, você não se deixa mudar quando tem uma família dessa.

ÉPOCA: E como Brad Pitt se sai como pai?
Angelina Jolie: Ele é ótimo. Enquanto faço essa entrevista com você, é ele quem cuida das crianças (risos). Hoje cedo acordei e ouvi ele trocando as fraldas. As duas garotas ficaram prontas ao mesmo tempo e uma estava gritando pela mamadeira. Fiquei ouvindo aquele choro por quase cinco minutos, até levantar-me da cama. Um doce caos (risos).
ÉPOCA: Os paparazzi não os deixam em paz. Isso deve ser um absoluto horror para vocês.

Angelina Jolie: Você tem que entender que essa é um fase estranha, mas passageira. Tudo isso não tem nada a ver com a realidade ou com quem somos. Por alguma razão, a gente foi pousar num ponto onde existe um foco bizarro pela superficialidade, mas isso irá passar. A única coisa que é um pouco assustador é que a cultura de celebridades invadiu até os telejornais sérios das principais emissoras da TV. Você muda de canal, para a BBC, por exemplo, procurando notícias sobre Darfur e o que encontra? Um programa sobre paparazzi. E você se pega dizendo: mas o que é que é isso?! Tentamos não deixar que essas coisas afetem nossas vidas. Afeta a vida de nossas crianças, infelizmente. Zahara fica um pouco assustada com as câmeras.

ÉPOCA: E como você explica essa sanha toda a eles?
Angelina Jolie: E como você pode explicar uma coisa tão bizarra dessa para crianças?

ÉPOCA: Mas deve haver uma maneira, eles devem ficar curiosos, não?

Angelina Jolie: Claro. Mas você não pode explicar a eles que nada mais faz sentido! Então a gente diz a eles que existem pessoas doidas (risos). Fazemos uma piada do tipo: olha os lunáticos que querem tirar nossas fotos. A gente não faz nenhum esforço em explicar que eles estão tirando fotos da gente para comercializá-las. Não posso e não quero explicar a eles que o mundo está focado em nossa família porque somos atores famosos. Isso não faz sentido e não é muito saudável para eles. Não posso levar Maddox ao Central Park e negar-lhe um sorvete porque tem dois homens escondidos atrás de uma árvore.

ÉPOCA
: Por causa de suas viagens internacionais e a exposição que seus filhos têm a diferentes culturas, como explica religião a eles?
Angelina Jolie: Somos uma família muito espiritual. Já me disseram que eu sou humanista. Não sei o que isso significa, mas soa bem legal (risos). Mesmo que Brad e eu não tenhamos nenhum credo específico, estamos intereressados em todas as crenças e essa é uma razão que nos aproximou bastante. Discutimos muito como criar nossos filhos e a qual religião eles deveriam pertencer. Chegamos à conclusão de que deveríamos compartilhar todas as religiões em nossas viagens com eles, e também que deveríamos provê-los com os mais variados livros sobre povos e religiões. Desse entendimento e reflexão, cada um deles escolherá o caminho religioso próprio.

ÉPOCA: Você tem alguma fraqueza?

Angelina Jolie: Tenho muitas. Brad dirá que eu sou muito compulsiva em fazer várias coisas ao mesmo tempo. Às vezes, ele pergunta se não podemos visitar um país e termos três dias para não fazermos nada, sem um campo de refugiados para as crianças visitarem. "Podemos sentar juntos por um minuto?", ele diz (risos).

ÉPOCA: Você acha que é possível resolver o problema da paz em países do Terceiro Mundo?

Angelina Jolie: Acho que temos de endereçar as duas coisas ao mesmo tempo. Você não pode tentar erradicar pobreza e não lidar com questões como justiça ou segurança. Esse é um grande erro que vejo em minhas viagens. Eu já vi tantos refugiados que vão de volta para o Afeganistão e viram vítimas da violência. Em Darfur, por exemplo, houve uma situação em que alguém trouxe mochilas com suprimentos escolares às crianças locais e elas foram roubadas e torturadas. Estamos sempre lidando com um enorme nível de frustração até encontrarmos uma solução, que eu sei que virá.

0 comentários:

Postar um comentário

Fique à vontade para fazer comentários, críticas e sugestões, mas por favor sem ofenças a ninguem.
Obrigado por visitar o Blog Angel Jolie!