terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Mente aberta

Fonte: O Diario de Angelina Jolie

Angelina Jolie estrela o filme de Clint Eastwood, baseado num caso real ocorrido em 1928 em Los Angeles


Crítica por Luís Antônio Giron
Revista Época


Vestida dos pés à cabeça, com um chapéu dos anos 20 que lhe oculta os cabelos, Angelina Jolie ainda assim chama a atenção pelos olhos. As duas esferas verdes adquirem o tamanho do sofrimento do mundo na interpretação que ela faz de uma mulher que perde o filho, mas não a esperança.

A Troca encena as obsessões do diretor Clint Eastwood: a perpétua luta do indivíduo pela verdade, a crítica às instituições, a crença absoluta na América como terra da liberdade e da salvação ? e no cinema como veículo de emoções e enredos eletrizantes. "Escolhi Angelina porque ela é parecida comigo", diz Eastwood. Aos 78 anos, Eastwood tem um olho para atores. Afinal, é um dos mais ativos cineastas de Hollywood. Chamar Angelina para papel da mãe coragem Christine Collins foi uma ideia eficaz, pois a atriz encarna como nenhuma outra a estrela hollywoodiana com instintos maternais. Ela interpretou o papel de modo visceral, conforme declarou a ÉPOCA quando o filme estreou nos Estados Unidos, em 24 de outubro. Sua atuação ? emocionante e contida ? coloca-a entre as mais fortes concorrentes ao Oscar de melhor atriz de 2008.

Angelina interpreta Christine, telefonista que vive em Los Angeles. Separada do marido, deixa o filho Walter sozinho na sua casa no subúrbio. Num final de tarde de meados de 1928, ao voltar para casa, descobre que o menino desapareceu e dá queixa na delegacia. Tudo parece correr bem. O capitão Jones (Jeffrey Donovan) trata Christine com atenção e promete encontrar o menino o mais brevemente possível. O problema é que a polícia é corrupta e incompetente, a começar por suas instâncias superiores. Semanas se passam, e, depois de muita insistência da parte de Christine, finalmente o capitão anuncia que Walter foi encontrado ? e que chegará de trem em determinado horário. Aflita, Christine corre para a estação, onde é surpreendida por um batalhão de repórteres e fotógrafos, e o staff da polícia de Los Angeles a postos, à espera do trem. Quando o menino desembarca, sofre o choque: é outro menino. Os policiais a obrigam a participar da farsa, fingindo que se trata de Walter. Em troca, o capitão promete que vai encontrá-lo em breve. Ela aceita posar para as fotos e levar a criança para casa. Só então se dá conta de que foi vítima de uma arapuca ainda maior: os policiais que tramaram a substituição agora querem provar que Christine é louca, pois não reconhece o próprio filho. Desesperada por encontrar o menino, ela recorre a um influente pastor presbiteriano, o reverendo Gustav Brigleb (John Malkovich), que apresenta um programa de rádio, dedica-se a causas humanitárias e acusa a violência e os desmandos da polícia. O caso vai aos jornais, Christine denuncia a troca. Os policiais alegam que a mulher está com problemas psicológicos e conseguem que ela seja enviada a um hospital psiquiátrico. Ali, é tratada com eletrochoques e todo tipo de humilhação. Enquanto isso, um garoto de 12 anos conta à polícia da fronteira do Canadá que foi obrigado a participar do assassinato de dezenas de meninos numa fazenda do interior. O assassino atraía os garotos e os executava a machadadas no galinheiro de sua granja, em Wineville. Alguns conseguiram escapar e, segundo o garoto, Walter fugiu no meio da noite. Mas não tem certeza de que não morreu. Ninguém tem. Christine e Brigleb iniciam uma cruzada para julgar o criminoso e levar os oficiais da polícia de Los Angeles aos tribunais. Nada, porém, que a impeça de seguir buscando o filho para sempre.

O longa-metragem se baseou num fato real, o caso dos assassinatos do galinheiro de Wineville, que provocou a queda da polícia da cidade de Los Angeles no começo dos anos 30. Com um orçamento baixo (US$ 55 milhões, já cobertos pela bilheteria), o diretor restaura a Los Angeles do início da era do rádio e do ápice do cinema, com seus subúrbios repletos de bangalôs de madeira, a agitação do Hollywood Boulevard repleto de teatros e celebridades ? e a corrupção que já carcomia a cidade, tema recorrente de filmes e romances policiais. A fotografia, a cargo de James J. Murakami (o mesmo de Cartas de Iwo Jima, de Eastwood), é preciosista e dramática. A fluência da direção convence, apesar de algumas falhas e anacronismos, como a casa de Christine e do microfone usado pelo reverendo, ambos modelos típicos dos anos 50.

O caráter patético de algumas sequências e a pieguice dos diálogos ? cheios de frases feitas sobre superação e heroísmo ? irritaram boa parte da crítica. Mesmo assim A troca é um drama que empolga como Hollywood nos velhos tempos. Seu diretor é o último dos representantes do cinema como veículo da ética e dos valores americanos, tão abalados ultimamente.

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