sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Revista Cláudia entrevista Angelina Jolie






"Só quero criar meus filhos direito".

A mulher mais fotografa do mundo está com 33 anos e tem uma preocupação: educar da melhor maneira seus seis filhos com Brad Pitt. Sua inspiração, para a vida e a arte, é a própria mãe - a quem ela vê na composição de sua personagem no filme "A Troca", que estréia mês que vem e tem chance de render-lhe o segundo Oscar.


Sian Edwards / The Interview People / Tradução Ana Ban.
Colaborou, Teté Ribeiro, de Nova Iorque.


Poucos meses após dar à luz os gêmeos Knox Leon e Vivienne Marcheline, na França, Angelina Jolie está de volta ao corpo magro e anguloso de antes. Como fez isso? "Tenho seis filhos e amamento!", diz ela, 33 anos que parecem 20, sorrisão, Ralph Lauren da cabeça aos pés - calça e malha bege-clarinhas e sapatos de salto de 7 centímetros. No luxuoso hotel Waldorf Astoria, em Nova Iorque, a atriz está recebendo jornalistas do mundo todo, que vieram saber um pouco mais sobre seu novo filme, "A Troca", dirigido por Clint Eastwood, e que estreia no Brasil em 2 de fevereiro.

No drama, baseado em fatos reais, Angelina interpreta Christine Collins, telefonista e mãe solteira em Los Angeles, nos anos 20, que um dia volta do trabalho e não encontra o filho. Walter Collins tinha 7 anos quando desapareceu de casa. A história piora: meses depois, a polícia anuncia que encontrou o menino e chama a imprensa para registrar o encontro, mas a mãe não o reconhece. Na época, a polícia de Los Angeles era tão corrupta que fazia qualquer negócio para que ninguém investigasse suas falcatruas. Só que essa mãe quer a verdade, custe o que custar. Contar mais é estragar a história. Basta dizer que os críticos preveem uma segunda indicação ao Oscar para Angelina, que levou o prêmio de coadjuvante em 2000 por "Garota Interrompida". A atriz conta que fazer "A Troca" teve para ela uma "função terapêutica", pois ajudou-a a superar a dor da perda de sua mãe, Marcheline, que morreu em janeiro de 2007. "Posso dizer que mais ou menos representei minha mãe nesse filme. É ela que vejo quando assisto ao filme, e Brad a vê também." Mas cinema é apenas uma parte na vida de Angelina. Tanto que a maioria das perguntas dirigidas a ela nessa manhã são sobre sua família - a mais fotografada do planeta. E impressiona a serenidade dela ao falar sobre esse clã formado, além de Brad Pitt e dos gêmeos, pela primeira filha biológica do casal, Shiloh, nascida em maio de 2006, e os três filhos adotivos, os meninos Maddox, 8 anos (cambojano), e Pax, 5 (vietnamita), e a menininha Zahara, 4 (etíope). Estão todos hospedados no hotel. "Eles tomaram conta de um andar inteiro e fazem tanto barulho que não sei como não está chegando até aqui!", diz Angelina, rindo.

VOCÊ PENSA EM COMO SUAS FILHAS VERÃO AS MULHERES QUE VOCÊ INTERPRETA ALGUM DIA?
Geralmente interpreto mulheres que eu gostaria de conhecer. Mesmo quando são personagens bobinhas, como em "Tomb Raider", sempre tem algo nelas que vai divertir minhas filhas quando elas assistirem, um dia.

DURANTE AS FILMAGENS DE "A TROCA", VOCÊ DECLAROU QUE ESTAVA SENDO MUITO DIFÍCIL LIDAR COM SEU PAPEL E QUE TEVE MUITOS TEMORES A RESPEITO DELE.
Declarei mesmo, porque é um tema horrível...E é meu pior pesadelo. Depois de ler o roteiro, não dormi bem à noite. Eu nem queria passar perto de ter que pensar em alguma coisa de ruim acontecendo com meus filhos. Eu não queria passar meses toda emotiva por causa disso. Mas, ao mesmo tempo, não conseguia tirar a história da cabeça e ficava pensando na minha mãe, que eu tinha perdido naquele ano.

POR QUE O FILME A FEZ PENSAR EM SUA MÃE?
O nome da minha mãe era Marcheline, e ela sempre se cahama de 'marshmallow' (risos). O jeito dela era tão suave que, mesmo quando chegava para me mandar arrumar o quartõ, não conseguia me dar bronca. Então, eu sempre tentava fazer tudo pra lhe agradar, por ser tão doce. Mas, quando se tratava dos filhos dela, se alguém nos insultasse ou se precisássemos de alguma coisa, tirava uma força surpreendente de algum lugar. E, apesar de me sentir frágil durante as filmagens, foi um momento de me reconectar com minha mãe, porque essa personagem me faz pensar nela.

FAZER ESSE PAPEL FOI TERAPÊUTICO, ENTÃO?
Foi, sim. Funcionou como uma catarse. Até então, desde que minha mãe tinha morrido, eu não conseguia olhar uma foto dela sem chorar. Só fui capaz de fazer isso quando cheguei ao set. De algum modo, parecia que estávamos juntas. Aquilo foi gostoso e também exerceu uma espécie de poder de cura sobre mim. Não encontro outra maneira para explicar.

VOCÊ TEM FEITO PAPÉIS ESTAFANTES ULTIMAMENTE. DÁ ATÉ PRA DIZER QUE É UM ATO MASOQUISTA FAZER UM FILME DESSES LOGO DEPOIS DE "O PREÇO DA CORAGEM"...
Bom, eu também fiz "O Procurado" no meio desses dois (risos). Depois que terminei de rodar "O Preço da Coragem", perdi minha mãe, tive filhos e estava tão esgotada emocionalmente que só queria enfiar a cabeça embaixo das cobertas. Mas sabia que dali a seis meses começaria a fazer "A Troca". Liguei para o meu agente e perguntei: "Será que tem alguma coisa aí que seja física, agressiva e também original? Se eu não achar nada assim, vou começar a me transformar em uma florzinha - estou me despedaçando".

COMO VOCÊ SE COMPORTOU COM SEUS FILHOS ENQUANTO FILMAVA "A TROCA"?
Fiquei super apegada! Acho que meus filhos até se irritaram com a quantidade de abraços que dei neles nesse período! Eu vivia perguntando: "Onde está todo mundo e o que está acontecendo?" Mas foi um filme muito duro de rodar, uma das coisas mais difíceis que eu já fiz. Eu amo tanto, tanto meus filhos...E fico feliz de saber onde eles estão e que estão bem no fim de cada noite. Deixei todos dormirem comigo, na nossa cama, em muitas ocasiões. Fiquei muito apegada (risos).

VOCÊ E BRAD CONVERSAM COM OS FILHOS SOBRE SEU TRABALHO HUMANITÁRIO? QUEREM QUE ELES TAMBÉM FAÇAM ESSE TIPO DE COISA?
Esperamos que faça. Iniciamos programas nos países dos nossos filhos e acreditamos que, à medida que crescem participando dessas iniciativas, se sintam reponsáveis por elas. O melhor que podemos fazer por nossos filhos é proporcionar a eles a vivência em mundos diferentes. Hoje, eles estão se divertindo neste hotel, mas daqui a poucas semanas estaremos todos na Etiópia e eles não terão o que têm aqui. Quando visitamos o Camboja, eles ajudam a comprar sapatos, doces e água, levam para os moradores locais e ficam lá conversando com as crianças. Eles veem que o mundo não é equilibrado e nos questionam. E, em vez de fazer sermão para eles, nós mostramos o que existe. Esperamos que eles absorvam tudo isso e encontrem em si o desejo de ajudar o mundo a chegar ao equilíbrio.

COMO É A CRIAÇÃO DOS SEUS FILHOS EM RELAÇÃO A RELIGIÃO E CULTURA?
Quero ensiná-los sobre todas as religiões e estou tentando encontrar um jeito de fazer isso. Procuro me assegurar de fazer tudo de melhor pela educação deles. Não quero, por exemplo, que fiquem soterrados pela escola. E, se o assunto é adoção, penso em quando minha filha, que é africana, crescer - será que ela vai querer ter o cabelo liso igual ao da mamãe? Então saio atrás de referências para ela, procuro uma Barbie africana. Mas a Barbie africana tem cabelo liso! E por que a Disney nunca fez um filme com uma princesa negra!?

VOCÊ VAI DESCANSAR UM POUCO AGORA?
Faz um ano que não trabalho e, em fevereiro, vou começar um projeto de alguns meses. Brad e eu conversamos em casa a respeito de equilibrar o trabalho e a criação dos filhos. Queremos educá-los da maneira adequada a estar disponíveis para eles, mas também queremos nos realizar como artistar e pessoalmente. Felizmente, ele é um pai ótimo. Quando ele vai trabalhar, eu fico em casa. E quase todos já estão na escola.

É BOM PASSAR UM TEMPO LONGE DAS CRIANÇAS?
Toda mãe sabe que um tempinho para si mesma só nos faz ser mães melhores. Quando a gente dorme bem uma noite, fica tão melhor no dia seguinte!

CLINT EASTWOOD DISSE QUE AS PESSOAS NÃO VEEM O QUE EXISTE POR TRÁS DE UMA IMAGEM BONITA. É POR ISSO QUE VOCÊ FAZ TRABALHOS BENEFICIENTES? PARA SUPLANTAR A IMAGEM?
Nunca fiz nada por causa da imagem. Faço o que adoro fazer. Saí a campo porque queria entender o que acontecia no mundo, comecei a viajar e me sentia ignorante. Egoisticamente, conversar com refugiados foi o que mais me fez aprender; essas conversar estão entre as melhores interações que tive com seres humanos. Sinceramente, adoro fazer isso e quero dar esse exemplo a meus filhos. Se alguém precisa entender quem sou, são meus seis filhos, que questionarão qual o sentido da minha vida.

O QUE VOCÊ DIZ A ELES QUANDO FAZ FILME VIOLENTO?
Vou conversar com eles quando estiverem mais velhos. Por hora eles não veem esses filmes, mas fazem perguntas. Pax está nessa de querer saber quem é o vilão. Sempre respondemos: "A pessoa está fazendo algo para alguém que não fez nada de mau para ela, ou está se defendendo?" Deixo meus filhos brincarem com soldados de brinquedos e eles perguntam sobre a guerra. Há pouco tempo, um deles questionou: "Qual país é bom e qual é mau?" Ele apontava um monte de bandeiras, e precisei explicar que depende do ponto de vista de cada um. Tenho que contar aos meus filhos a história do envolvimento dos Estados Unidos no Vietnã e Camboja, a relação que os países têm entre si. Não abordamos guerra e violência de forma leviana, não nos escondemos e não dizemos: "Você não pode brincar de soldado em casa", mas mamãe e papai têm filmes em que interpretam esses personagens. Há morte de verdade, vida de verdade e responsabilidade de verdade.

VOCÊ ACREDITA EM DESTINO?
Não acreditava, mas quando fui ao Camboja, saí de lá achando que deixava algo para trás. Voltei em missão humanitária e senti: "Meu filho está aqui". No dia em que conheci Mad, acordei pensando que me apresentariam a uma criança e imaginei como me sentiria. Assim que o vi, soube que era mãe dele. Estava predestinado.

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