sábado, 22 de janeiro de 2011

Em trabalho sem alma, só resta o corpo de Angelina

Fonte: Jolie News

Em tese não teria como não dar certo: pegue uma dupla de atores de grande apelo popular, dirigidos por um cineasta de prestígio, ganhador do Oscar. Arranje uma trama que contenha espionagem, mafiosos russos e desvio de dinheiro. Ambiente em uma locação mágica, como Veneza. Eis aí a receita de O Turista, com Angelina Jolie e Johnny Depp, dirigido por Florian Henckel von Donnersmarck que, com esse nome todo, assinou o ótimo A Vida dos Outros, com a vigilância da polícia política Stasi sobre os alemães orientais. O incrível, com todos esses ingredientes, e esse cozinheiro, é que O Turista não funcione. Ou só funcione a meio vapor.

A história até que começa com pitadas de inspiração. Elise (Angelina) está sendo vigiada pela Interpol e pela Scotland Yard porque seu namorado roubou um mafioso e lesou o fisco britânico em milhões. Todo mundo quer botar a mão na grana – e no homem. Em um café parisiense, Elise recebe um recado do namorado. Ela deve tomar um trem e, no interior dos vagões, procurar alguma pessoa que se assemelhe a ele. Um bode expiatório, para assumir a culpa e desviar a atenção da polícia. Todos sabem que o procurado fez plástica e ninguém sabe com que rosto ficou. Então pode ser confundido com o personagem de Depp, um pacato professor de matemática.

E quem é Frank (Depp)? Apenas um turista de ar triste e coração amargurado. Como não se impressionar com uma mulher como Elise que, além de bela e desenvolta, ainda se hospeda em Veneza no Hotel Danieli, em pleno Grande Canal? Eis aí a chave do filme: veículo para uma mulher linda e que domina todas as cenas, sob as vistas de um diretor condescendente que, convidado para sua aventura hollywoodiana, deixou na Europa qualquer ambição autoral. O resultado é um trabalho competente, com algumas sequências interessantes, mas irremediavelmente sem alma. Dele, só resta um corpo – o de Angelina, visto de maneira mais do que discreta, diga-se. Depp, ator de personalidade, parece apagado.

Mesmo o roteiro, que soava inventivo no início, acaba caindo na obviedade, como logo o espectador se dá conta. Em aparência, a história encaixa-se no esquema do “homem errado”, que remonta a Hitchcock. Só que o mestre do suspense conseguia manter a ambivalência até o fim, enquanto Von Donnersmarck parece pouco à vontade numa trama que se revela mais e mais artificial à medida que se desenrola.

A favor do filme, deve-se dizer que não carrega em efeitos especiais inverossímeis nas cenas de ação. A sobriedade, no caso, funciona melhor do que o exagero. O problema é que essa ausência de espetacularidade precisava ser compensada pela tensão interior dos personagens – e esta chama se encontra completamente apagada. Angelina é uma beleza de se ver, mas parece muito sem vida na pele de uma, em tese, conflitada Elise. De fato, o encanto do filme seria ela achar que, num mundo melhor, bem poderia se apaixonar por um tímido professor de matemática como Frank. Como não deixou de gostar do outro, isso deveria lhe trazer alguma convulsão interna. Se esta existe, Angelina não deixa transparecer. Nesse filme sem emoção, Depp também se comporta como autômato, trabalhando no piloto automático.

Crítica: O ESTADO DE S.PAULO por Luiz Zanin Oricchio

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